domingo, 3 de outubro de 2010

AINDA AQUI ESTAMOS (ou: como a génese da problemática cultural portuguesa deriva em grande medida da acção directa e indirecta da extrema esquerda no pós-25 de Abril)

"Porém, o caminho de regresso a esses ideais [a Democracia na Liberdade assente nos Direitos do Homem] apresenta-se, ainda, coalhado de obstáculos, não sendo fácil sair-se de um estado de desequilíbrio gerado por antagonismos sociais alicerçados no ódio entre classes, criminosamente fomentado por falsos ideólogos e alimentado pelo parasitismo dos que, apenas movidos pela ânsia de satisfação das suas ambições pessoais, se transformaram em pedras executórias de um plano de destruição do País.
(...)
Só assim se compreendem os aumentos de salário sem incentivar o aumento de produtividade sabendo-se que , em breves meses, esses aumentos não teriam qualquer significado no poder de compra. Só assim se compreende que se tenham destruído os «velhos monopolistas» de uma forma primária, em vez de os enquadrar e sujeitar a regras de justiça social, e surja uma nova classe de servidão do monopolismo estatal composta por parasitas sociais, que, sem a menor capacidade de gestão, se limitam a ser agentes de transmissão entre os trabalhadores e os governante. Enquanto estes, colocados na posição de superadmnistradores de empresas e sem a menor possibilidade de definirem uma política de desenvolvimento, geram a ruína da economia nacional.
Ao mesmo tempo, o funcionalismo público, as pequenas e médias empresas, os trabalhadores de serviços sem possibilidade de actualizarem convenientemente os seus proventos, as pessoas de rendimentos fixos que que vivem do que pouparam numa vida inteira de labuta, todos estes que, no seu conjunto, formam a classe média do País, encontram-se à beira da destruição, caminhando-se para um vazio social propício à indignação e à revolta.
(...)
Neste quadro social, com uma balança de pagamentos altamente deficitária, a gastar-se muito mais do que se produz, com o ouro a esvair-se, com empréstimos sobre empréstimos sem uma correcta aplicação em planos de desenvolvimento, tudo conduz para uma terrível situação que os portugueses em tempo algum sonharam: a «colonização» de Portugal.
Afinal nós os «colonialistas», os «homens do Império», passados a cidadãos de um pequeno e pobre país, sem dimensão universal e sem grandeza cultural, por virtude da nossa própria incapacidade, sujeitamo-nos a uma colonização financeira e tecnológica e, por esta via, a perder a independência."

António de Spínola, País Sem Rumo, 1978; pp. 361-3 [Negritos meus]

5 comentários:

  1. é impressionante ver que isto foi escrito em 1978... assustadoramente correcto.
    Somos uma Jangada de Pedra...à deriva sem rumo.

    Becas

    ResponderExcluir
  2. Diz-se que no meio está a virtude, entre a extrema direita e os da extrema esquerda, estaria a social democracia ou o socialismo, mas a virtude foi violada, e está completamente F***** neste "pobre" país.
    Sz

    ResponderExcluir
  3. É incrível a quantidade de descrições do estado do país, já com várias décadas (algumas centenárias, veja-se por exemplo o que escreve Ramalho Ortigão n'As Farpas) e que verificamos serem perfeitamente actuais.

    Não podia estar mais de acordo, com a excepção da seguinte passagem:

    "Ao mesmo tempo, o funcionalismo público, as pequenas e médias empresas, os trabalhadores de serviços sem possibilidade de actualizarem convenientemente os seus proventos, as pessoas de rendimentos fixos que que vivem do que pouparam numa vida inteira de labuta, todos estes que, no seu conjunto, formam a classe média do País, encontram-se à beira da destruição, caminhando-se para um vazio social propício à indignação e à revolta."

    De facto, entendo serem esses agentes, que formam a classe média, que fazem avançar o país e que primeiramente e sucessivamente são prejudicados, mas é pena que, contrariamente ao previsto por Spínola, este vazio social a que já chegámos não gere verdadeira indignação e revolta...

    Revoltemo-nos!

    ResponderExcluir
  4. Somos um país de brandos costumes, Frazão. Infelizmente, este povo para além de conivente também é cego e surdo...

    ResponderExcluir
  5. A revolta é uma boa ideia, mas qtos de vós ja sairam á rua para protestar ?????

    ResponderExcluir