quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O SISTEMA (ou por que razão um voto em Ferreira Leite é um voto anti-sistema)

Em Portugal fala-se muito sobre o “sistema”. Desde o “sistema” que regula o futebol ao “eles” que influenciam, normalmente mal, a nossa vida. E como a vida, para um Português, costuma ir torta e jamais se endireita, o “sistema” é a raiz de todos os problemas. De facto, olhando para a realidade socio-económica portuguesa, aparenta existir um “sistema”. Tal como em qualquer outro país, existe, de facto, uma elite que detém mais poder de influência sobre a sociedade do que o comum dos cidadãos. Ela revela-se nos interesses económicos entrelaçados com os objectivos políticos, a maior parte das vezes confundindo-se uns e outros, assente numa estrutura que os marxistas entenderiam como opressora, ou que os liberais entenderiam como a consequência natural da desigualdade humana. É a vida. Para quem está dentro do “sistema” as coisas correm melhor do que para quem está fora, logo, com naturalidade, uns defendem-no e outros atacam-no.
A questão que todos nos devemos colocar é se o “sistema” vigente funciona bem para o país e para os Portugueses: O país cresce? Desenvolve-se? As pessoas vivem bem? A pobreza diminui, a felicidade aumenta? Ou, por outro lado: O país estagna, a pobreza aumenta, as pessoas vivem menos bem? Se a resposta for a primeira, não há razão para se criticar o “sistema”, a não ser pontualmente onde se verificar necessário. Já se a resposta for a última, as coisas mudam de figura. E em Portugal as coisas não estão a correr bem.
No nosso país, o “sistema” assenta, essencialmente, no controlo, por parte de interesses diversos, uns legítimos outros nem tanto, do sistema político. Os partidos controlados por aparelhos partidários comercializam indecentemente lugares no Aparelho de Estado, principalmente o PS e o PSD, mantendo um bloco central de interesses que serve, precisamente, o “sistema”. Dessa forma, pertencer ao “sistema” é conseguir influência partidária que garanta influência no Estado, e vice-versa, sendo que toda esta influência se consegue investindo dinheiro. Os caciques locais precisam de dinheiro para ter votos, de votos para ter lugares e de lugares para ter influência. De caciques locais passam a caciques distritais e finalmente nacionais. De repente já falam na TV, escrevem nos jornais ou comentam com autoridade mediática. Mas sempre com a noção que sem os lugares, votos ou dinheiro que os pôs ali nada são. De pensamento, ideologia ou vontade independente nada têm e, dessa forma, se processa a infinita dança das cadeiras para ver quem mantém o seu pequeno poder. Um pequeno poder ao serviço do grande poder, o tal “sistema” que não serve o país.
Criou-se a ideia, marquetizada e irrealista, que, para recusar este “sistema” é preciso votar num qualquer partido “anti-sistema“, seja ele novo ou velho. O melhor exemplo é o chamado voto de protesto que tem feito crescer o BE. Esta ideia é falsa por duas razões: Primeiro ao votar-se BE (o mesmo vale para o PCP), vota-se numa noção radical de um comunismo idílico que resulta, na prática, numa opção altamente estatizante e controlada da economia, o que, paradoxalmente, reforça o “sistema” que precisamente se diz combater na medida em que é mais fácil influenciar o que está controlado por poucos do que aquilo que depende de muitos; Em segundo lugar, ao se votar BE não se vota num partido que, efectivamente, governe o país, logo impedindo o escrutínio saudável da Democracia no que aos Governos diz respeito: Votar BE pune o Governo e a Alternativa, logo não premeia ninguém, ao não premiar ninguém o voto de protesto não ajuda a regenerar o que de mal está no arco da governação.
Assim, o verdadeiro voto anti-sistema não está necessariamente fora dos partidos do arco da governação. Onde está então?
A resposta reside dentro dos partidos. Dentro do PS e do PSD existirão ideias, ou mesmo ideologias diferentes. Tal como os militantes: Uns que vivem do - e para - o aparelho do partido, outros que o combatem, que tentam diminuir os seus tentáculos para campos eticamente aceitáveis. Esses são a linha da frente do combate ao “sistema“: Aqueles que atacam a superficialidade de discurso, as medidas marquetistas de eleitoralismo barato, a corrupção, o tráfico de influências, etc., etc.. Nem sempre temos a sorte de ter um combatente do “sistema” como candidato a Primeiro-Ministro. Num país ideal teríamos - talvez num futuro não tão longínquo de maior profundidade e proficuidade democrática assim seja - vários combatentes do “sistema” por onde escolher. Mas na nossa realidade, comparando os dois potenciais vencedores das eleições, não é difícil de descortinar quem é o combatente do “sistema”, quem é que ganhou o seu partido contra o aparelho, quem é genuíno e sério nas suas propostas e, por outro lado, quem é o garante da continuidade de uma ilusão superficial amarga que se alimenta do país ás custas do seu desenvolvimento e do bem estar das gerações vindouras.
Dia 27 votarei Manuela Ferreira Leite.

2 comentários:

  1. Grande texto! Partilho da tua definição de "pertencer ao sistema"!!

    ps: Onde é que vais votar? Cá?

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  2. vou de propósito a portugal para votar. grande abraço

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