sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

SAM MENDES, REVOLUTIONARY ROAD


Sam Mendes é um realizador que levo sempre em consideração devido a American Beauty (1999) um filme que marca, não só pelo enredo e pelas interpretações mas também pelo ambiente e sensação que o realizador consegue incutir no espectador. Em Road To Perdition (2002) já não foi tão brilhante mas foi simples e o filme agradou. Neste Revolutionary Road, tão aclamado pela crítica, esperava mais American Beauty mas tive mais Road To Perdition. Não comprometeu. Mas se a realização é agradável já o enredo é aborrecido e, por vezes, descontinuado. A química entre Di Caprio e Winslet já não é o que era (será que alguma vez foi? O Titanic foi um barco que não me convenceu...) e as suas interpretaçãoes não me convenceram absolutamente. Principalmente Winslet. Mais uma interpretação intensa de Kate Winslet intensa. A partir de determinada altura o filme torna-se penoso e damos por nós a suspirar por que acabe. E é pena porque a temática mercia mais. Uma desilusão.
Votação IMDB - 7.9
Votação Desblogueada - 6

THOMAS MCCARTHY, THE VISITOR


Thomas McCarthy, um actor que pululou por várias séries de TV, realiza e escreve o argumento deste independente The Visitor. Dos mesmos produtores de Sideways (2004), aparece-nos um filme simples, simpático, cativante que capta a bondade da abertura de espírito em relação ao outro, seja ele de que raça ou religião for. Ao mesmo tempo, lança uma crítica actual sobre a desumanidade com que o ocidente trata aqueles que imigram em busca de um sonho de uma vida decente. Passa-se nos EUA mas poderia perfeitamente passar-se na Europa. Um filme improvável, com uma excelente interpretação de Richard Jenkins (nomeado para o Oscar de Melhor Actor) e que oferece mais uma boa perspectiva sobre as enúmeras escondidas possibilidades que nós temos de fugir à aborrecida rotina quotidiana em busca da felicidade. E essa pode estar onde menos se espera.
Votação IMDB - 7.9
Votação Desblogueada - 7

DARREN ARONOFSKY, THE WRESTLER


Darren Aronofsky tem sido um realizador a ter em conta. Primeiro com PI (1998), um dos filmes mais impressionantes que já vi e depois com um perturbante Requiem For a Dream (2000) que me marcou. Em The Wrestler dá uma de Tarantino e faz renascer um actor das cinzas, falo de Mickey Rourke, e oferece-nos uma estória que tresanda a humanidade. Orgulho, dor, solidão, erro e paixão. Rourke é The Wrestler,como tanto se tem dito por aí mas o filme é muito mais do que isso. Aronofsky está em grande com uma realização que nos leva ao âmago das personagens e dos acontecimentos. O argumento é simples e dá espaço aos actores para florescerem com especial nota para uma secundária Marisa Tomei (Before The Devil Knows You're Dead, My Cousin Vinny) que fica na retina tal como para uma lateral Evan Rachel Wood (Thirteen). Em, suma, excelente filme, de uma intensidade tão deliciosa (porque é o que se pretende num filme) quanto perturbadora. Fica-nos gravado na memória a luta pela dignidade, algo que nos é comum a todos principalmente a todos aqueles que vêem a sua pisada e pisada pelo combóio, tantas vezes impiedoso e insensível que é a vida. Um relato espectacular. Absolutamente a não perder.
Votação IMDB - 8.5 (#61 no Top 250 dos melhores filmes de sempre)
Votação Desblogueada - 9

JUAN ENRIQUEZ: BEYOND THE CRISIS, MINDBOGGLING SCIENCE AND THE ARRIVAL OF HOMO EVOLUTIS

STEPHEN DALDRY, THE READER


Nos seus três primeiros filmes, Stephen Daldry conseguiu ser nomeado três vezes para melhor realizador. Primeiro com Billy Elliot (2000), depois com o muito justamente aclamado The Hours (2002)e, agora, com este The Reader. Não ganhou o Oscar de Melhor Realização mas ganhou o de Melhor Actriz para Kate Winslet. Que o filme está bem realizado, está. Que a estória tem interesse, tem. Mas o enredo torna-se previsível e arrasta-se aborrecidamente muito para além da capacidade de actuação de Ralph Fiennes ou de Kate Winslet. E, ao contrário de Benjamin Button onde a tecnologia ao serviço do cinema nos convence da veracidade da idade de Brad Pitt (ver aqui), já aqui a simples caracterização de Winslet não é absolutamente convincente. Nem a sua interpretação é extraordinária. O Oscar teria sido melhor entregue a Anne Hathaway. A mim o filme desiludiu-me.
Votação IMDB - 7.8
Votação Desblogueada - 6

ED ULBRICH: HOW BENJAMIN BUTTON GOT HIS FACE

sábado, 21 de fevereiro de 2009

JOÃO BOTELHO, "CORRUPÇÃO"


Nesta nova abordagem do blog em relação ao cinema, não podia deixar de viajar até Portugal e, por isso, falar do "polémico" filme Corrupção (2007) que só tive a oportunidade de vsionar há poucos dias. Tenho de admitir que estava com alguma expectativa porque o tema me interessava. Não li o livro da Carolina Salgado mas, por defeito de anos a seguir o futebol português, não me foi difícil pensar que haveria um elevado grau de probabilidade em muito do que ela acusava. De facto, o filme brinda-nos com pérolas negras que nos deixam adivinhar os bastidores do mundo do futebol e de algumas personagens perniciosas que por lá pululam. Até aqui tudo bem. Agora, cinematograficamente falando foi um pesadelo condeguir ver o filme até ao fim. Se o enredo é pobre, descontinuado e, por vezes, simplesmente palerma, pelo menos das interpretações se poderia esperar outra coisa. Mas não. Actores consagrados como Breyner ou Cerdeira não acrescentam nada e, a cereja no topo do bolo, a "aclamada" interpretação de Margarida Vila Nova, tirando a parecença física, não é mais do que um constrangedor clichê ambulante. Chega a ser patético.
Votação IMDB - 3.3
Votação Desblogueada - 3

JONATHAN DEMME, "RACHEL GETTING MARRIED"


Depois de realizar alguns box office hits como Philadelphia (1993) ou Silence of The Lambs (1991) o realizador Jonathan Demme passou mais despercebido pelos nosso olhares. Agora aparece-nos com este Rachel Getting Married num registo completamente diferente. Utilizando o estilo documentário, rude de corte, atento aos pormenores, Demme oferece-nos a perspectiva independente sobre o reencontro de uma toxico-dependente em recuperação (Anne Hathaway, nomeada para o Oscar de Melhor Actriz) com a sua família a propósito do casamento da sua irmã. Absorvemos a humanidade do relato, cheio de musicalidade (Demme é fã de Neil Young e isso transparece, está previsto para o final de 2009 que saia o seu documentário sobre o cantor)e aprendemos sobre o que é viver em família, viver com o passado de uma família disfuncional, como todas, onde ninguém está inocente, e cada um, à sua maneira, carrega o fardo que lhe cabe. Excelentes diálogos, intensidade narrativa, todos os ingredientes para um filme a não perder.
Votação IMDB - 7.4
Votação Desblogueada - 8

CLINT EASTWOOD, "GRAN TORINO"


Foi com grande expectativa que vi ontem o filme Gran Torino de Clint Eastwood. Tenho de admitir que sou um fã do cinema dele. Mais uma vez nos brindou com uma estória singela e com uma personagem que facilmente nos cativa. Boas representações, incluindo de alguns actores que nunca antes haviam figurado em algum filme, boa realização, enredo intenso como ele nos habituou. Peca por, em alguns momentos, perder a sua natural simplicidade e aparecer-nos como algo um pouco "rebuscado". Apesar disso vale a pena.
Votação IMDB - 8.4
Votação Desblogueada - 7

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

BARRY SCHWARTZ


Para quem não conhece a TED espero que tire algum tempo para vir a conhecer. Para mim é um dos melhores sites da net, uma fonte de aprendizagem e de descoberta, o melhor que a tecnologia comunicacional tem para nos oferecer. Basicamente as conferências TED (que para se poder participar in loco só por convite e mediante o pagamento de 10 000€) está disponível on line. O conceito é simples, cada orador tem 18 minutos para expor o seu tema. Eu, sendo um tedster fervoroso, vou acompanhando o que se vai pensando por aí, esta "talk" do Barry Schwartz foi das melhores que vi ultimamente.

PERVERSÃO



Vivemos numa sociedade onde os afectos e os sentimentos ou são regulamentados ou pervertidos no seu sentido mais profundo. Usar esta música num anúncio é simplesmente matar qualquer coisa de puro e inocente, algo que os nossos antecessores tanto defenderam mas que foram derrotados. Hemmingway dizia que os homens podem ser destruídos mas não podem ser derrotados. É verdade. Mas para isso seria preciso que lutassem. A verdadeira perversão é o apropriar da pureza, dos valores e da esperança unicamente em nome do interesse particular. Assistimos impávida e serenamente ao destruir dos ideais em nome do marquetismo totalitário.

FASCIZANDO



"If couples want to say a romantic farewell at Warrington Bank Quay station in Cheshire they have to walk to a Kissing Zone in the short-stay car park - where they can indulge themselves for up to 20 minutes.
Coincidentally, the station is on the same line as Carnforth in Lancashire, less than 60 miles away, where Brief Encounter was filmed in 1945.
The 'no kissing' sign - the first of its kind in the country - is outside the station where couples saying goodbye were causing traffic congestion, delaying other passengers who then had to rush for their train. "


Se não fosse o indício de algo grave era uma notícia que tinha piada. De facto, se até já os beijos de despedida entre namorados é alvo de regulamentação ou de "zonas obrigatórias" lá vamos nós a caminho da sociedade perfeita, mecânica, organizada, higiénica e perfeita que vimos no "Gattaca" ou da qual ouvimos falar pelo Orwell. Que ponham a zona de beijos longe da zona de fumadores, já agora criem a zona leitores pelo meio, de preferência de revistas cheias de anúncios a coisas que me querem fazer comprar, e não se esqueçam da zona de apertos de mão, mas só com luvas, não vá o diabo e as bactérias tecer alguma coisa.

Vão é mas é cagar ao mato! Nas palavras do Michael Moore, shame on you...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

DAVID BOWIE

"Life on Mars?"

Para a Ana e para a Rita.

TRÓIA (III)

O momento não se procura, aceita-se. Ele é que nos procura a nós. Se nós o procurarmos, procuramos a nossa ideia de momento e essa ideia, porque somos pequenos demais para compreender o momento universal, está provavelmente errada; ou seja, ao procurarmos o momento, acabamos a procurar algo que não é o momento. Logo, estamos a recusar o momento. Estamos a inventar um futuro que não temos e a desperdiçar o presente que nos foi oferecido. Desta recusa se faz a nossa angústia. A angústia de tentar controlar o que está para além do nosso controlo. Assim, a verdadeira felicidade reside na aceitação do descontrolo. Nós não mandamos a onda que surfamos virar para a direita ou pa a aesquerda. Nós só aproveitamos o impulso. Venha o que vier. E é isso que é a vida: um impulso, uma onda que ou aceitamos nela viajar ou ficamos à espera de algo qua nunca virá. Na aceitação do nosso momento presente, seja ele qual for, reside a felicidade. É a recompensa por deixarmos de lado o medo e embarcarmos na magnífica dádiva imcompreensível que é a vida.

TRÓIA (II)


Tomei o meu primeiro banho de mar do ano.

TRÓIA


Ocorre-me pensar que eu já sei, porque já me disseram, que toda a nossa vida se resume à forma como lidamos com o momento presente. E se o tempo é relativo, se é relativo à velocidade de cada um, porque não será ele também relativo à relação de cada um com o seu momento? Se assim for, passa a tomar toda a lógica a assumpção da noção que à medida que saímos da infância, da adolescência, à medida que nos formamos adultos, que nos stressamos, que ansiamos com o futuro ou lamentamos o passado, à medida que perdemos o nosso presente, a vida foge-nos e o relativo tempo esgota-se num desperdiçado momento.
É uma dicotómica proporcionalidade portanto. Quanto mais estamos a viver o momento, mais ele se estende, distende, alarga, cresce, inunda e inunda-nos mais ele alberga e mais nós vivemos. Num só momento. Por outro lado, quanto mais nós nos perdemos do nosso agora, preocupados com o que não temos, não tivémos ou não viremos a ter, menos notamos, apreciamos, aproveitamos a única coisa que, de facto, possuímos. E, dessa maneira, silenciosa e tristemente, os momentos sucedem-se sem História ou estórias, escorrem-se em pensamentos fugazes e de aborrecida repetição, ciclos viciosos de paradoxais raciocínios e, assim, o tempo acelera perdido nos momentos não vividos. O tempo é mesmo relativo. A infância é infinita. Vivendo no seu presente a criança vive a vida toda que ainda vai viver num dia, numas horas ou num momento. Porque raramente pensa mais do que por uns breves instantes naquelas coisas que no futuro serão os pensamentos que mais a virão a atormentar.
Ah! Pudéssemos nós ensinar as nossas crianças a afugentar tais instantes em vez de lhes dizermos "não sejas criança" e, com isso, forçá-las a tornarem-se naquilo que somos.
Ah! Pudesse o mundo girar ao contrário e aprendermos nós a ser outra vez crianças, pudéssemos nós esquecer o que os outros nos ensinaram, aqueles que já morreram, e muitos deles morreram antes de viver.
O tempo é mesmo relativo. E talvez seja essa a nossa escolha: Um eterno momento de felicidade ou um efémero lamento de angústia.
Também os velhos indíos escolhiam e aceitavam com serenidade a sua morte. Talvez por saberem aproveitar os seus momentos, talvez eles tenha levado vidas eternas, talvez eles só estejam mesmo mortos para nós que continuamos a fugir do momento eterno pois eles, os indíos e os sábios do espírito e da alma, esses vivem ainda, sentem ainda porque ainda vêem os infinitos pôr do sol sem se sentirem na obrigação de dizer que é bonito ver um pôr do sol, eles não precisam de o dizer, eles não precisam de o pensar, eles sabem-no, eles sentem-no e já o sentem há muito tempo. E isso também sabe e sente aquele que vê com os olhos do coração e não com a lanterna fosca da razão.