segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
TRÓIA
Ocorre-me pensar que eu já sei, porque já me disseram, que toda a nossa vida se resume à forma como lidamos com o momento presente. E se o tempo é relativo, se é relativo à velocidade de cada um, porque não será ele também relativo à relação de cada um com o seu momento? Se assim for, passa a tomar toda a lógica a assumpção da noção que à medida que saímos da infância, da adolescência, à medida que nos formamos adultos, que nos stressamos, que ansiamos com o futuro ou lamentamos o passado, à medida que perdemos o nosso presente, a vida foge-nos e o relativo tempo esgota-se num desperdiçado momento.
É uma dicotómica proporcionalidade portanto. Quanto mais estamos a viver o momento, mais ele se estende, distende, alarga, cresce, inunda e inunda-nos mais ele alberga e mais nós vivemos. Num só momento. Por outro lado, quanto mais nós nos perdemos do nosso agora, preocupados com o que não temos, não tivémos ou não viremos a ter, menos notamos, apreciamos, aproveitamos a única coisa que, de facto, possuímos. E, dessa maneira, silenciosa e tristemente, os momentos sucedem-se sem História ou estórias, escorrem-se em pensamentos fugazes e de aborrecida repetição, ciclos viciosos de paradoxais raciocínios e, assim, o tempo acelera perdido nos momentos não vividos. O tempo é mesmo relativo. A infância é infinita. Vivendo no seu presente a criança vive a vida toda que ainda vai viver num dia, numas horas ou num momento. Porque raramente pensa mais do que por uns breves instantes naquelas coisas que no futuro serão os pensamentos que mais a virão a atormentar.
Ah! Pudéssemos nós ensinar as nossas crianças a afugentar tais instantes em vez de lhes dizermos "não sejas criança" e, com isso, forçá-las a tornarem-se naquilo que somos.
Ah! Pudesse o mundo girar ao contrário e aprendermos nós a ser outra vez crianças, pudéssemos nós esquecer o que os outros nos ensinaram, aqueles que já morreram, e muitos deles morreram antes de viver.
O tempo é mesmo relativo. E talvez seja essa a nossa escolha: Um eterno momento de felicidade ou um efémero lamento de angústia.
Também os velhos indíos escolhiam e aceitavam com serenidade a sua morte. Talvez por saberem aproveitar os seus momentos, talvez eles tenha levado vidas eternas, talvez eles só estejam mesmo mortos para nós que continuamos a fugir do momento eterno pois eles, os indíos e os sábios do espírito e da alma, esses vivem ainda, sentem ainda porque ainda vêem os infinitos pôr do sol sem se sentirem na obrigação de dizer que é bonito ver um pôr do sol, eles não precisam de o dizer, eles não precisam de o pensar, eles sabem-no, eles sentem-no e já o sentem há muito tempo. E isso também sabe e sente aquele que vê com os olhos do coração e não com a lanterna fosca da razão.
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