quarta-feira, 29 de agosto de 2012

DAS IDEIAS POLÍTICAS

Há duas posições no mundo que perfazem o combate ideológico: à direita, aqueles que procuram compreender a natureza humana e adaptar as regras da sociedade a essa mesma natureza e, à esquerda, os outros que procuram transformar a natureza humana levando-a a aceitar as regras que eles próprios entendem que devem nortear a sociedade. Já posições políticas há tantas quanto os infinitos interesses dos homens, infelizmente tanto menos legítimos quanto menor for a ideologia que o justifica: fortes ideias forçam a um rumo definido, logo a um debate claro. Quando o debate político se faz de acusações e de desmentidos, de cambalhotas e piruetas e não se percebe bem quem discorda ou quem concorda com quem, então, torna-se evidente a ausência das ideias e são os jogos de interesses de alguns que verdadeiramente comandam a vida de todos: onde imperam os interesses impera o status quo e, por mais que se grite o contrário, a impossibilidade de um rumo de mudança.

domingo, 26 de agosto de 2012

DA LIBERDADE DA TERRA

Aqui onde os javalis e os ginetes cirandam nas suas vidas respira-se a liberdade. Não apenas a liberdade conceptual, das comunidades, mas também - e fundamentalmente - a liberdade suprema assente na libertação dos conceitos e dos homens: aqui na minha terra (a propriedade privada continua a ser a base),  onde não se vê nem ouve ninguém, onde a vista alcança o infinito, os meus limites são eu próprio e o mundo. Não aquele que inventaram mas o mundo tal como ele se me apresenta. E essa é a verdadeira liberdade: a livre interpretação. Isso e o silêncio dos montes.

sábado, 25 de agosto de 2012

NEXT: THE APPLES


DA IRRELEVÂNCIA

A dimensão humana é tão ínfima que a diferença entre um argumento genial e uma articulação boçal só poderá ser absolutamente desprezível. A excepção será para o próprio humano, principalmente para aquele que aprecie mais numa conversação do que apenas os sons que saem da sua própria boca; para esses, a boçalidade, como um vírus, torna-se insuportável, mas - no entanto - útil, pois configurando a lembrança constante da nossa irrelevância, angustia-nos ao mesmo tempo que nos impede de viajar na ilusão da nossa pseudo-importância. É precisamente nessa insuportabilidade que se atesta, pela prisão ao ínfimo humano, a quase-igual pequenez do pretenso erudito. No final, dos humanos, para mal dos nossos pecados, apenas o silêncio se aproveitará: tudo o resto, mais ou menos insuportável, é o fogo de artifício que festeja a suprema irrelevância humana.

INCERTO

Como é que aquele que vê três dimensões explica àqueloutro que só vê duas a diferença entre um círculo e uma esfera? E se normalmente aquele que apenas vê o círculo está certo de que apenas um círculo ali está, já aquele que vê a esfera - e a infinitude de círculos que a compõe -, porque um dia apenas viu círculos, não pode deixar de se questionar sobre as dimensões que agora lhe escapam e o que será que a infinidade de esferas que não vê comporá num plano mais profundo de realidade que lhe escapa. E assim se separa a ignorância da certeza da sabedoria da incerteza.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

ESQUECIMENTO

O sobreiro impassível impõe-se à terra enquanto, condescendente, aceita balançar levemente os seus ramos ao vogar do vento. O aroma das estevas dilui-se enquanto o céu gira lá em cima. O tempo, ele próprio, espera. Entretanto, do outro lado do mundo, as cidades feitas de plástico ardem, derretendo-se e consumindo-se freneticamente no vazio, por entre os dois lentos suspiros que o tempo, ao passar por aquele sobreiro, deixa ficar para trás. Onde o tempo suspira, a histérica gritaria dos loucos não é mais que uma distante memória: uma folha que o sobreiro largou no vento. Um lamento que o tempo esqueceu.