quarta-feira, 29 de outubro de 2008

OS PORTUGUESES DESCOBRIRAM A AUSTRÁLIA?

"O australiano Peter Trickett defende terem os portugueses descoberto a Austrália 250 anos antes do capitão James Cook e está a preparar um documentário televisivo. O autor mostrou-se convencido de que, pela experiência que já teve com o seu livro Para além de Capricórnio, em que procura demonstrar que os portugueses aportaram aquelas paragens antes do capitão James Cook em 1770, "o público em geral irá ter grande interesse". A tese da descoberta portuguesa da Austrália "tem um bom acolhimento por parte do leitor, que a aceita bem. O mesmo não acontece no meio académico, que acha que não é possível e não pode ser verdadeira, apesar das provas apontadas", disse Trickett.

Segundo defende, terá sido o navegador Cristóvão Mendonça, por volta de 1522, o primeiro português a avistar as costas australianas, quando navegava na zona por ordem de D. Manuel I, que o enviara em busca da "ilha de Ouro" citada nos relatos de Marco Pólo. Trickett fundamentou a sua afirmação em mapas portugueses que cartografaram parcialmente a Austrália no século XVI, chamando-a "Terra de Java".

Mendonça terá ancorado ao largo da actual Botany Bay, que cartografou, referindo as "montanhas de neve", dunas de areia branca que ali existiram. O estudioso menciona os cerca de 150 topónimos australianos "de clara origem portuguesa". "Que explicação se pode dar para tal?", questionou. Além dos mapas de origem portuguesa, Trickett aponta o aparecimento em mares australianos de dois potes de cerâmica de estilo português. Um datado do ano 1500, o da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, o outro aguarda datação. Cita-se ainda a descoberta de um peso de pesca com 500 anos, em Fraser Island, no Estado australiano de Queensland.

A política de sigilo das monarquias ibéricas dos reis D. João II e D. Manuel I, e que terá encoberto o conhecimento do Brasil, foi praticada para esta "Terra de Java", a Austrália actual. Tudo aponta, seguindo Trickett, para "uma clara antecipação da descoberta da Austrália pelos portugueses, a mando de D. Manuel I na busca da ilha de ouro". Hoje, a Austrália é o 3º maior produtor mundial de ouro. Para Trickett, "a natureza humana é o que é, não aceita ter-se enganado ou dizer que errou, tanto mais quando se trata de académicos, com teses e trabalhos teóricos publicados sobre o assunto".

"É certo que dizem que a tese é errada, insustentável, mas não fizeram qualquer crítica séria do ponto de vista científico. Acham que a minha tese é difícil de combater e preferem não dizer nada de concreto", sublinhou.

O estudioso afirmou à Lusa que continua a investigar o assunto e que o seu editor projecta editar esta obra em Espanha e na Holanda, onde há uma tese que refere que navegadores holandeses terão também avistado costas australianas antes de James Cook. LUSA"

in DN 29.10.2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

GEORGE CARLIN

Secção dos grandes comediantes

UNIVERSAL MIND

"I was doing time
In the universal mind,
I was feeling fine.
I was turning keys,
I was setting people free,
I was doing alright.

Then you came along,
With a suitcase and a song,
Turned my head around.
Now I'm so alone,
Just looking for a home
In every place I see.

I'm the freedom man,
I'm the freedom man,
I'm the freedom man,
That's how lucky I am..."

The Doors

terça-feira, 21 de outubro de 2008

BABYLON CIRCUS



"J'aurais bien voulu"

A CRÓNICA DE UM HAMSTER CHEFE DA RODA

Era uma vez um pequeno hamster que vivia numa gaiola com muitos outros hamsters. Ele gostava muito de viver na gaiola. Talvez porque não percebesse que vivia numa gaiola. A gaiola era muito grande e dava para andar de um lado para o outro. Tinha uma casa para si e para a sua família, o pai hamster e a mãe hamster. A casa era cheia de comida e de brinquedos. Passava o dia a brincar e a saltar. Era muito feliz. Mas chegou a altura de o pequeno hamster arranjar a sua própria casa. Só podiam ficar na gaiola gigante aqueles hamsters que chegados a determinada altura arranjavam a sua própria casinha. E para arranjar a sua própria casinha ele tinha de encontrar uma função na gaiola. Os hamsters que não tinham função na gaiola não podiam continuar a viver ali. Assim, o pequeno hamster arranjou uma função. Ele tinha de se montar numa roda e andar e andar e andar para fazer a roda girar. Ao princípio o pequeno hamster gostou muito da sua função. Chamavam-lhe emprego. Ele gostava muito do seu emprego porque gostava de andar na roda. Era como um carrossel. Dava voltas e voltas e voltava a dar voltas. Era muito divertido. Como ele era um bom andarilho, a roda dava muitas voltas e isso queria dizer que ele era muito bom na sua função. E por isso conseguiu arranjar a sua própria casinha. E depois de arranjar a sua própria casinha entreteve-se a decorá-la toda. Foi às melhores bancadinhas da gaiola e levou para a sua casinha muita palha para se deitar, muitas uvas para mordiscar e muitos brinquedos para brincar. Também, porque fazia a roda girar muito, podia comer tudo o que quisesse. E foi ficando mais gordinho. Mesmo assim continuava a conseguir girar a roda muito bem. Chamavam-lhe o chefe da roda porque de todos os hamsters que giravam as suas respectivas rodas, ele era o melhor de todos. E por isso pode mudar de casa. E passou a ter a melhor casa, com os melhores brinquedos e com a melhor ração para comer. O pequeno hamster era muito feliz. A girar, girar e girar. A rodar, rodar e rodar.
Passado alguns anos o pequeno hamster começou a querer fazer coisas diferentes. Estava aborrecido por a única coisa que tinha para fazer ser girar a sua roda. Ele gostava muito da roda mas precisava de se entreter com mais qualquer coisa. Quando dizia aos outros hamsters que precisava de mais alguma coisa os outros ficavam muito admirados porque não percebiam porque é que ser o chefe da roda não era suficiente para o pequeno hamster ser completamente feliz. É que todos os outros hamsters queriam ser o chefe da roda. E a maior parte deles nem sequer gostava de fazer girar a roda. Por isso é que o pequeno hamster é que era o chefe da roda. Porque ele gostava mais do que todos os outros de andar na roda. Mas com os outros hamsters não era assim. Eles andavam na roda porque também queriam ter uma casinha e muita palha para se deitarem. E queriam ser o chefe da roda para também terem uma casa tão grande e tão boa como só o chefe da roda poderia ter. E assim, eles viam o chefe da roda ter tudo o que eles queria ter e não percebiam porque é que o pequeno hamster não era feliz. O pequeno hamster também não sabia porque é que não era feliz. Então começou a ler muitos livros para tentar saber muitas coisas e depois, finalmente, poder perceber como poderia ser outra vez feliz. Tal como quando era pequenino e andava na roda só para brincar. Tal como quando era pequenino e no seu coraçãozinho cabiam todos os sonhos do seu pequeno mundo. Então o pequeno hamster aprendeu muitas coisas. Percebeu a história da gaiola, como tinha sido feita, quem a tinha construído e porque é que ele tinha de dar voltas na roda. E ficou muito triste. Porque percebeu que o verdadeiro chefe da roda não era ele. O chefe da roda era o dono da gaiola. E esse hamster nem sequer vivia na gaiola. O pequeno hamster nem sequer sabia quem ele era. E também percebeu que sabia muitas mais coisas do que os outros hamsters. E viu que não era preciso andarem todos a dar voltas nas suas rodinhas porque dar voltas nas rodas só servia para acumularem mais palha e mais brinquedos do que aqueles de que os hamsters precisavam. Brinquedos com que os hamsters nem sequer podiam brincar porque estavam sempre a dar voltas nas suas rodinhas. E o pequeno hamster percebeu que se todos os hamsters soubessem disso podiam todos brincar uns com os outros e serem todos muito felizes porque finalmente poderiam ser todos iguais, ninguém seria o chefe da roda, ninguém quereria ser o chefe da roda e todos eles poderiam ser amigos, tal como quando eram pequeninos. E o pequeno hamster tentou avisar os outros hamsters. Mas nenhum lhe deu nehuma atenção porque todos acharam que o pequeno hamsters os estava a tentar enganar para ser ainda mais chefe da roda. E foi aí que o pequeno hamster percebeu que a roda era uma coisa má porque fazia os hamsters serem inimigos uns dos outros em vez de serem amigos. Passou a não gostar da roda. E passou a não gostar da gaiola. Assim, foi andar à volta da gaiola para ver se podia sair. E viu que a gaiola era guardada por seguranças muito maus que trabalhavam para os chefes da gaiola. Mas um dia conseguiu fugir da gaiola. Levou comida para muitos dias e preparou-se para uma grande aventura.
Assim que saiu da gaiola o pequeno hamster viu quem eram os chefes da gaiola. E achou-os muito feios. Só queriam saber se as rodas andavam e não se importavam nada se algum dos hamsters que andava na roda se tinha magoado. Eram hamsters que gostavam mais das rodas do que dos hamsters que faziam as rodas girar. E não deixavam os hamsters ver como era o mundo fora da gaiola porque se toda a gente visse o mundo fora da gaiola não haveria mais ninguém para fazer girar as rodas. E, assim, o pequeno hamster fugiu para muito longe. E no caminho encontrou muitas gaiolas onde muitos hamsters giravam as suas rodinhas. E ele não queria mais ser o chefe da roda. Ele queria que todos gostassem dele por ser o pequeno hamster e não por ser o chefe da roda. O pequeno hamster agora sentia-se livre dos chefes da gaiola. Podia fazer o que quisesse fora da gaiola. Ele brincou muito, leu ainda mais livros e ficou a saber ainda mais coisas sobre as gaiolas. Porque se vê melhor e se aprende mais sobre as gaiolas quando se está fora da gaiola do que quando se está lá dentro. E passou assim algum tempo. Feliz e despreocupado porque não devia nada a ninguém, ninguém lhe devia nada a ele e porque sentia que sabia muito. Foi descobrir o mundo fora da gaiola. Viu muitos rios e mares, montes e montanhas, céus e infernos, paraísos e desesperos. Viu muitas pessoas, camelos e gorilas. Viu abelhas e lagartixas. Viu barcos e arranha céus. Viu casas e carros e sois e luas. Viu dias e noites, estrelas e luares, viu e sentiu tristezas e alegrias, músicas de sonhar e de adormecer. Até que começou a achar que já tinha visto muita coisa. E percebeu que quanto mais coisas tivesse para ver mais outras diferentes lhe apareciam para poder ver. E foi assim que percebeu que o mundo era infinito. E que ele por mais que soubesse era muito pequenino ao pé desse mundo infinito. E foi então que quis voltar para casa para poder dizer aos outros hamsters que havia tantas coisas bonitas para se ver fora da gaiola.
Quando o pequeno hamster voltou para a sua gaiola viu que tudo continuava na mesma tirando que o chefe da roda era agora um outro hamster. Foi com ele que primeiro foi falar mas o novo chefe da roda não o quis sequer ouvir porque pensou que o pequeno hamster só lhe queria roubar o lugar de chefe da roda. E mais ninguém quis ouvir o pequeno hamster porque o chefe da roda proibiu todos os hamsters de falarem com ele. O novo chefe da roda não queria deixar de ser o chefe da roda. E nem quando o pequeno hamster explicou que ser chefe da roda não era nada comparado com as coisas que havia para descobrir fora da gaiola ele se demoveu. E quanto mais o pequeno hamster tentava falar mais era mandado calar até que foi perseguido e se viu obrigado a fugir da gaiola. Foi aí que o pequeno hamster ficou muito triste outra vez. Porque percebeu que não tinha ninguém com quem falar. Não podia falar com ninguém dentro da gaiola porque não o queriam ouvir e não podia falar com ninguém fora da gaiola porque estava sozinho. E o pequeno hamster chorou. Chorou muito porque não queria estar sozinho. Fora da gaiola ele olhava lá para dentro e via muitos hamsters a darem voltas na roda. E já tinha saudades do tempo em que isso bastava para se ser feliz. Apeteceu-lhe esquecer tudo o que tinha aprendido e ser só mais um dos hamsters. Nem precisava de ser o chefe da roda. Mas depois lembrava-se de como o mundo era tão bonito e já não queria esquecer nada. Queria era partilhar essa beleza com alguém. Mas fora da gaiola não vivia ninguém.
E o pequeno hamster viveu sozinho durante muito tempo. Sempre sozinho. Debaixo das estrelas e da beleza do mundo. Cantava muito para adormecer. E assim foi durante muitos anos. Até que quando um dia lhe faltaram as forças deixou de cantar.