OS NOVOS MISSIONÁRIOS
Missionário, s. m. Pregador de missão; propagandista.
Eu no outro dia vi o Sr. José Eduardo Moniz, director de programas da TVI a falar no telejornal desse mesmo canal, em horário nobre, e fiquei, naturalmente, curioso sobre o que motivaria tal comunicação aos telespectadores da TVI.
Meus amigos... As palavras fogem-me por debaixo da língua para tentar descrever o enorme sentimento de revolta que aquele ser humano me causou a ler
do teleponto que nem verdadeiro jornalista
um comunicado desprezível para quem detém um sentido mínimo do que é decente numa sociedade democrática e evoluída como eu gosto de sonhar que é a minha.
A questão era que o Sr. Moniz estava muito escandalizado pelo facto de o Presidente da República
imagine-se o Presidente da República a ter a lata de criticar os jornalistas
ter referido no seu discurso que a actuação dos jornalistas no âmbito do caso Casa Pia deveria ser alvo de ponderação pois corria-se o risco de estar a lançar nomes de pessoas inocentes para a lama pedófila onde tantos nomes, lenta e agonizantemente, se afundam.
E isto é verdade. E se aqueles nomes que a TVI e os seus amigos jornalistas, vieram transmitir a dizer que tinham sido alvo de investigação
arquivada por falta de provas
não tiverem nada a haver com o caso? Se o caso foi arquivado não quer dizer que eles provavelmente serão inocentes? É que se o forem vão ficar, injustamente, para o resto das suas vidas encobertos por um gigantesco sinal luminoso que aponta a todos os que os vêem na rua
olha aquele gajo se calhar é pedófilo
Como é que o Sr. Moniz e amigos se propõem a resolver o caso? Eu não falo daqueles que foram acusados. Falo daqueles que não o foram por falta de provas. Porque, provavelmente, serão inocentes. Não terão os amigos dos, agora acusados, sido investigados?
é natural
E serão todos pedófilos?
claro que não
E a questão é esta meus amigos: O que é que o Sr. Moniz pensa fazer para reparar o bom nome daqueles que, irresponsavelmente, ligou ao caso Casa Pia, apesar de terem apenas sido investigados e não acusados?
A resposta é nada. Zero. O Sr. Moniz não quer saber disso.
Estou-vos a falar deste caso porque me parece o exemplo ideal para descrever a actual situação social que vivemos hoje em dia.
Hoje nós assistimos ao facto de qualquer canal de televisão, ou jornal, pode dizer aquilo que lhe apetece, escudado na liberdade de imprensa e na protecção das fontes, sem sequer ter a responsabilidade de saber se é verdade ou não.
E isto é tanto mais importante se levarmos em consideração que a comunicação social é a mais importante forma de influenciar as pessoas.
Hoje em dia tudo aquilo de que se fala e discute na opinião pública é consequência daquilo que os media nos dizem. Na realidade, eles são os novos missionários, os difusores da verdade escondida, os reveladores do conhecimento supremo.
E isto é verdade. Que nem os padres que no século XV, e seguintes, seguiram para o mundo incivilizado a revelar a existência de Deus aos nativos, os media revelam-nos o que acontece por esse mundo fora. Ora, isto seria muito bom se eles não dessem a sua opinião e, com isso, influenciassem as mentes daqueles que, desprevenidos, absorvem tudo aquilo que vêem na caixinha mágica como um dogma impossível de contestar.
Mais ainda. São os media que decidem o que é notícia e o que não é notícia. Ou seja, filtram a realidade dos acontecimentos diários, reduzindo-os aos 50 minutos de um telejornal, baseando-se num critério desconhecido do que eles consideram ser o interesse do público.
E aqui é que bate o ponto. Qual é o interesse do público? Será aquilo que vende mais jornais ou dá mais audiência?
hoje o Marco bateu na Sónia
A partir do momento que os media são um negócio, eu permito-me a desconfiar da noção que eles perfilham de “interesse do público”. Peço desculpa, mas audiências e vendas nunca poderão ser sinónimo de liberdade porque essa liberdade está constrangida pelo interesse do mercado. Uma notícia interessante para uma minoria ou que nos poria todos a pensar duas vezes sobre qualquer coisa se calhar não é veiculada porque não é “do interesse do público”, ou seja, não vende ou não é compreendida por quem é o público alvo de determinado órgão de comunicação social. E isto é grave. É muito grave. É grave o suficiente para que o Presidente da República teça comentários sobre este assunto.
E sabem o que é mais giro? É que o Presidente da República, o mais alto magistrado da Nação, o Chefe de Estado, no dito telejornal teve direito a dois ou três minutos para falar sobre este e outros assuntos, enquanto que o Sr. Moniz esteve um quarto de hora a mandar bitates sobre o que ele acha que o Presidente da República deveria ter dito.
ó Sr. Moniz, o que o senhor pensa não interessa a ninguém
ó Sr. Moniz, o senhor não é notícia
ó Sr. Moniz, o senhor não foi eleito por ninguém e não representa ninguém
Isto entristece-me e revolta-me.
Vivemos numa sociedade que segue, invariavelmente, os ditames daquilo que é expelido pela gigantesca máquina da comunicação social. Os media dizem-nos o que devemos comprar para comer, vestir ou divertir. Eles decidem quem são os ícones máximos da sociedade, ou seja, quem são os modelos de vida dos nossos jovens. Eles deliberam unilateralmente sobre o que consideram ser o interesse público
um comunicado do Sr. Moniz não é de certeza
e afogam-nos com vagas sucessivas de “interesse público”.
E depois é tudo imediato. Sem continuidade. Aquilo que é verdade hoje está completamente esquecido no dia seguinte. E dão-nos tanta informação que se transforma em desinformação, pois nós não conseguimos apreender e processar convenientemente toda a informação que recebemos.
é como tentar encher um pequeno balde debaixo da cascata do Niágara
Esta é que é a realidade que o Sr. Moniz naqueles longos quinze minutos não disse: A comunicação social é o quarto poder, é o mais poderoso deles todos porque fiscaliza todos os outros e, incrivelmente, é o único que não é fiscalizado por ninguém, ou seja, é o único poder ilimitado.
Mas a situação ainda se torna mais difícil.
É que quando alguém aparece a dizer que o poder dos media terá, de alguma forma, de ser regulamentado, todos os jornais abrem com parangonas a dizer que essa pessoa é fascista e quer acabar com a liberdade de imprensa.
ridículo
Como é que se resolve isto?
Eu cá, só sei que nada sei. Mas apesar de nada saber sei que o Sr. Moniz sabe de certeza tudo o que eu deveria de saber sobre isto. E não tenho de me preocupar porque ele vai-me dizer de certeza.
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